Pras cucuias o que disse a moça dura no flash de há 3 minutos
O que compraram as famílias do Natal mais bárbaro dos últimos x anos
O que limparam, inovaram, superaram, comemoram
Que se frite
A América pros americanos
Eles que são brancos que se explodam
Ou da cor que fossem
Nós todos
Que tudo redemunhe numa doce ascendente
E ao solo torne em helicóptera semente
E se amontoe, decante e decomponha em duas lindas palavras –
Serapilheira, turfa
Eu quero mais erosão, na voz de Lenine,
Menos granito
Bonito, também voto, é a ruína
Testemunha de acusação da transmutação
Dos arroubos dos homens de projetos
Em crônica faraônica
Em desvario decifrado
Em furto de futuro
E por que não era na época
Ou ninguém calou o profeta?
O tempo é o melhor tradutor
De cada nova moda do rei, uma a uma
Que tudo torne em húmus, esterco, insumo,
Minhas duas orgânicas palavras, serapilheira, turfa
Não é do pó ao pó: é do adubo ao adubo
Esse eterno Prometeu
E eu não prometi nada
Essa eterna Babel
E eu não vou carregar
NO PASARÁ
Esse complexo de puro-sangue
Concurso de sísifos
Esse incessante maquinar (d)o mundo
As marias-sem-vergonha que obram quietinhas nas nesgas
Do, sacro seja, Museu de Paranaguá
As epífitas nas brechas e nos sobres dos blocos de pedra
Das Missões dos sete povos
Os pombos que humanizam o Coliseu
O verde mormaço a derreter com arregaçadora determinação
O que foi o delírio amazônico de um Ford
[Vem mesmo feito rio a alegoria do ano amazônico
Que inunda, arrasta, arrasa, preda, defeca, empilha, multiplica e reinventa em mil cores
Sempre as mesmas
E assim, findos os noves, zera]
Tudo o que sentimos, criamos, construímos, sofremos, arrotamos ser,
Que se dane em folha, sumo, camada
Se submeta, humílimo, à lenta festa do chão
Porque, no fundo, é assim que é
E que um dia seja e ponto
Por isso me abraço
Nelas que me trazem
Serapilheira, turfa
Cheiro de gosto de tato
De rio, de chão, de fogueira, de cinza, de barro, de negação
Me deito
Brilho de água, pureza araguaiana, tapete de gravetos, ocaso rasgado
Escuto
Cascalho, caule, cascudo, garça, boi
Revivo como posso
No chão, o que de solo
No céu, algaravia
Posso escrever silêncio? E cor? E vida?
Gás, ponteiro, ponto, posto, prato
Hora redonda, hora-fração, escova, movimento em massa
Migração, corrida, faqueiro universal, calendário de festejos
Carro-forte, embornal, apetite, debate, sede da administração, juramento
Língua, divisa, deus-lhe-pague, partido, sorriso, coração figurado
Apresentação de gala, carta magna
Descendência
Tudo isso pra onde, caralho, esse dicionário, pra onde?
O antigo não passa de retrato amarelecido do novo
O que é bonito? O cantor pergunta, eu repito
E eu me apaixonei por essas palavras opacas e luzidias, minha ladainha, meu emplastro-antídoto pra tudo
E eterno retorno:
Serapilheira! Turfa!
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