Poema escrito para a música instrumental homônima de Manu Maltez e publicado no disco As Neves do Kilimanjaro (2006), gravado por ele com o Grupo Cardume.
A sugestão da casa, claro, é ouvir enquanto lê!
Fim-do-Mundo
O Fim do Mundo não é quando,
É onde:
Disso os antigos já carecas, com escorbuto
E arrepio.
Começa onde dormiu a última estrela,
e onde três meninos de galochas,
cientificamente,
caçam o rosto de ser meninos…
Esquecem de algum futuro.
Sua primeira namorada é um porquinho-da-índia?
Ou já amantes de sereias?
Sereia-traíra, sereia-lambari, sereia-cascudo.
O fim-do-mundo é um bagre azul
Que leva as estrelas no bucho,
Espadana dentro da poça morna de um piano
Ronronca num contrabaixo
E estrebucha na saída do túnel de metal de um sopro.
O fim do mundo é bom:
É o fim do fim da picada
Começo de um começo
Deus se des-re-inventando
Cobra verde caçando a própria cauda
Imprópria alma
Em algum muro de alguma grande cidade.
O Fim do Mundo não é relato
É fato
Que acabou.
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